Rosa de Pedra {Fragmentos do Cotidiano}

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Matei o cacto que ganhei de minha irmã. Uma perfeita Rosa de Pedra, de talos robustos alinhados num centro, aspirando, loucamente, por serem espiral.

Aquele vaso miudinho me acompanhava por onde eu fosse: se ia escrever na mesa ao ar livre, ia comigo. Se carregava Bolaño para a varanda, a suculenta sentava-se ao meu lado.
No meu quarto, ocupava lugar de destaque, no centro do altar eclético com as cores das minhas crenças: ficava entre o Buda, Ganesha, meu ovo de quartzo rosa e o Lingam de Shiva.

Amei o cacto. Conversava com ele mientras percebia-o morrer, lentamente.
A terra ficava seca: eu a cobria de água. O sol do verão estava muito duro: protegia-o na sombra.
Dei o meu melhor. Cuidei do cacto como se cuida a uma planta dócil, gentil, delicada.
Desejoso, entretanto, de amor bruto, o cacto morreu.

3 comentários Adicione o seu

  1. Alberto Moura disse:

    Coitado do cactus! Não soube expressar seu real desejo!
    e, por falar em matar:

    “Morri, Morri

    Morri de amor,
    Quando, no cair da tarde, você despontou!
    Súbito fui atiçado em intenso calor!
    Nunca vi tanta beleza, nem tanto fulgor!
    Mas a conquista, difícil,
    Foi uma batalha p’ra lhe convencer
    A um primeiro encontro,
    Quase me desmonto p’ra lhe satisfazer.
    Depois fiquei mais contente,
    Só pensava mesmo na gente,
    Mas, um dia, de repente,
    Você me abandonou!

    Morri de dor,
    Quando, ao nascer do dia, você não surgiu!
    Ao meu lado, só um vácuo, a dor me invadiu!
    Nunca me vi tão vazio, com tanto pavor!
    Meu sonho estava perdido,
    Meu coração destroçado, sem tom;
    Uma cantiga de luto,
    Quase enlouqueço de tentar entender.
    Depois fui me acostumando,
    Meu coração foi se curando,
    Até que, um dia, sem querer,
    Você surgiu sob o sol!

    Morri de rir,
    Quando, vi no que afinal, você se transformou!
    Suja, perdida, sofrida, reapareceu,
    Numa esquina da vida, implorando por pão!
    Um pouco decepcionado,
    Mas, lá no fundo, vingado da dor:
    Fez-se, em fim, a justiça,
    Depois de tanto desmando e impudor!
    Aos poucos fui entendendo,
    Meu coração se acalmando,
    Agora eu pude, enfim, entender:
    Você buscou e encontrou!

    Morri de dó,
    Quando sua desventura afinal me explicou!
    Sonhos de muita luxúria não tinham valor!
    Meros sonhos de prazer resultaram em dor!
    Eu fiquei penalizado,
    Mas não podia deixar-me vencer:
    Você achou o que queria.
    Um prazer fútil não cria raiz!
    Agora, siga sua vida,
    Com a experiência aprendida;
    Talvez encontre quem queira lhe amar,
    E vá, enfim, ser feliz!

    Eu já morri! – Viva você!
    Eu já sofri! – Goze você!
    Eu já chorei! – Ria você!”

    (Alberto Pontes Moura – Samba – partido alto – Fortaleza, 18 de agosto de 2011)

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    1. Bea Galvão disse:

      Gratidão pela sua visita e por suas palavras, Alberto 😉 Seja sempre bem-vindo aqui! Beijos

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  2. Upāsaka Erick disse:

    É a manifestação da impermanência. Não importa o que façamos o fluxo do rio segue seu curso. Podemos desviá-lo, às vezes, mas não pará-lo.

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